segunda-feira, 14 de março de 2011

Entrevista a José António Tenente

José António Tenente é uma das caras mais conhecidas no mundo da moda portuguesa, por isso, dispensa apresentações. Conhecido pelas suas criações femininas e elegantes, este estilista concedeu-me uma entrevista e responde na primeira pessoa a uma série de questões.


 
Sara -  Para começar, como se define como estilista?
José António Tenente - Trabalho formas simples e depuradas onde o corte é fundamental. Um estilo que oscila entre o depurado, o gráfico, o decorativo e às vezes até teatral, no qual o desenho assume um papel muito relevante. Sobriedade e elegância num todo que pode estar repleto de detalhes.
     O meu imaginário é povoado por muitas referências românticas e várias foram as minhas colecções que começaram precisamente a partir de histórias de amor e das suas personagens. Umas reais, outras mitológicas, outras de ficção…
     Procuro sempre que haja uma linha de coerência entre as colecções, que se possam estabelecer ligações por aproximação ou por contraposição e que a imagem em questão apresente o melhor possível a ideia de cada colecção.


Sara - A moda de outras décadas está a voltar em força nestes últimos tempos. O que pensa sobre isso?
J.A.T.- A Moda tem um lado cíclico que não é novo, nem de agora. Actualmente e pela grande diversidade de propostas talvez se tenha essa noção de um modo mais evidente.
     É normal que se visitem ou revisitem épocas ou obras de artistas que nos remetem para outras épocas. Os criativos que estão por detrás das marcas são sensíveis a determinadas referências e muitas vezes querem explorá-las nos seus trabalhos. É uma inevitabilidade. E com isso acrescentam-se novas leituras, novas perspectivas. Isso é o que pode tornar a proposta interessante. Ninguém quer andar mesmo vestido ‘de outra época’, mas ter umas sugestões, uns detalhes, uma peça, que nos transporta para outro universo, pode ser muito divertido.


Sara - Tem alguma década que mais o inspire? Porquê?
J.A.T. - As minhas referências em termos de época vagueiam maioritariamente entre a renascença e a primeira metade do século XX. Deste período os anos 20 pela sua ‘loucura’ efervescente e os 50 pela sensualidade e e exuberância da silhueta feminina são os que mais me atraem. Mas não só na moda como também por toda a criatividade dessas décadas; design de interiores, publicidade…


Sara - Para si o que não pode faltar num guarda-roupa?
J.A.T.- Camisas brancas, t-shirts, blazer preto e jeans. Tanto para mulher como para homem.


Sara - Na sua opinião qual é o truque para vestir ‘bem’?
J.A.T.- É de facto ter um juízo crítico quanto ao que se usa. Nem tudo o que é moda fica bem a toda a gente. Ter uma boa noção da fisionomia, estar segura/o do que se veste, é o ‘truque’ mais simples e básico. Quando vestimos algo com o qual não nos sentimos confortáveis, ou que não é ‘a nossa cara’, passamos o dia a pensar nisso. Pelo contrário, se estamos muito seguros da nossa opção e nos sentimos mesmo bem na nossa pele, irradiamos estilo.

Sara - A moda do séc. XXI ainda naó está bem definida. Qual é a sua definição para a moda de hoje em dia?
J.A.T.- Para mim a grande característica da moda actual, é precisamente a grande pluralidade. Numa mesma estação podemos ter várias ‘tendências’ que à primeira vista até poderão ser antagónicas. O caminho está cada vez mais na individualização. E isto também tem que ver com o enorme número de projectos e marcas que correspondem a universos criativos distintos, como objectivos e públicos diferentes.


Sara - Qual é a sua opinião em relação à indústria de moda nacional?
J.A.T.- A moda nacional é uma realidade, mas infelizmente, nem sempre a visibilidade e a implantação no mercado correspondem ao crescimento e à evolução da moda nacional enquanto projecto criativo. O mercado é extraordinariamente concorrencial e a capacidade de investimento em marketing relativamente às marcas internacionais é muito diferente. A competição com a escala global é muito difícil e o nosso mercado interno é muito pequeno. O caminho pode também passar pela exploração de mercados alternativos e não saturados como estão os ‘tradicionais’ centros de moda.


Sara - Moda – necessidade social, vício dos media ou charme?
J.A.T.- A moda é o meio mais simples e eficaz pelo qual todos nos podemos exprimir. Cada um pode fazê-lo à sua maneira, com os meios que dispõe. A moda tem uma componente lúdica ao alcance de todos o que a torna hoje em dia numa das nossas manifestações mais democráticas.
      Sem pensar em extremos de ‘fashion victims’ a moda é uma necessidade saudável. Faz parte de nós enquanto espécie e devemos preservar essa faculdade.

Nota: Não sou jornalista, nem tenho aspirações a ser. Fiz esta entrevista no âmbito de um trabalho. Espero que gostem.

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